segunda-feira, 30 de março de 2009

Dois Irmãos

Dois irmãozinhos maltrapilhos,
provenientes da favela
- um deles de cinco anos e o outro de dez
- iam pedindo um pouco de comida pelas casas da rua que beira o morro.
Estavam famintos.
- Vai trabalhar e não amole
- ouvia-se detrás da porta.
- Aqui não há nada moleque...
- dizia outro.
As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças... Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes:
- Vou ver se tenho alguma coisa para vocês... coitadinhos!
E voltou com uma latinha de leite. Que festa! Ambos se sentaram na calçada. O menorzinho disse para o de dez anos:
- Você é mais velho, tome primeiro...
E olhava para ele com seus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.
Eu, como um tolo, contemplava a cena... Se vocês vissem o mais velho olhando de lado para o pequenino... Ele levou a lata à boca e, fazendo gesto de beber, aperta fortemente os lábios para que por eles não penetre uma só gota de leite. Depois, estendendo a lata, diz ao irmão:
- Agora é sua vez. Só um pouco.
E o irmãozinho, dando um grande gole, exclama:
- Como está gostoso!
- Agora eu, diz o mais velho.
E levando a latinha, já meio vazia, à boca, não bebe nada.'Agora você', 'Agora eu', 'Agora você', 'Agora eu'... Depois de três, quatro, cinco ou seis goles, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho, com a camisa de fora, esgota o leite todo... sozinho.
Esse 'agora você', 'agora eu' encheram-me os olhos de lágrimas. E então, aconteceu algo que me pareceu extraordinário. O mais velho começou a cantar, a sambar, a jogar futebol com a lata de leite.
Estava radiante, o estômago vazio, mas o coração transbordante de alegria. Pulava com a naturalidade de quem não fez nada de extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias sem dar-lhes maior importância.
Daquele moleque nós podemos aprender a grande lição:
"Quem dá é mais feliz do que quem recebe."
É assim que nós temos de amar. Sacrificando-nos com tal naturalidade, com tal elegância, com tal discrição, que os outros nem sequer possam agradecer-nos o serviço que nós lhe prestamos.
Autor desconhecido

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